Nota Pública da UCB pela proteção à vida dos/das ciclistas das cidades brasileiras, com destaque para Recife
A UCB – União de Ciclistas do Brasil, uma organização da sociedade civil, manifesta seu repúdio aos sinistros fatais envolvendo ciclistas em Recife/PE. Nos últimos trinta dias, já registramos seis vidas perdidas, evidenciando a ineficácia das ações das autoridades que, embora lamentem publicamente, pouco fazem para alterar a alarmante realidade da violência no trânsito da cidade. Expressamos nossa solidariedade às famílias e amigos das vítimas neste momento de dor. Esse cenário triste não se limita a Recife; a insegurança nas vias é uma constante em todo o Brasil. Nas últimas semanas, a mídia trouxe à tona diversos casos de crimes de trânsito, incluindo atropelamentos e mortes de ciclistas, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Campina Grande, Natal, Fortaleza e Porto Alegre. Tais ocorrências reforçam a necessidade urgente de mudanças estruturais e políticas eficazes.
Recentemente, em São Paulo/SP, um ciclista foi atropelado na Avenida Paulista, uma via que deveria ser um símbolo de segurança para os que pedalam. No Rio de Janeiro/RJ, um jovem de apenas 17 anos foi atingido por um ônibus na Avenida Brasil, sublinhando a falta de infraestrutura adequada e fiscalização. Em Fortaleza/CE, um ciclista de aproximadamente 50 anos caiu da bicicleta e foi atropelado por um micro-ônibus que não respeitou a distância segura ao ultrapassá-lo. Esses casos exemplificam a grave precariedade da segurança viária em nosso país.
Apoiar o uso da bicicleta não é apenas uma questão de interesse individual, mas sim um imperativo que beneficia a sociedade em geral, as cidades e o meio ambiente. Em um ambiente seguro e confortável, a bicicleta pode se tornar uma opção sustentável para milhares de pessoas. No entanto, a falta de infraestrutura adequada força ciclistas a compartilhar espaços com veículos motorizados em altas velocidades, onde condutores frequentemente desrespeitam as leis de trânsito, aumentando o risco de colisões e suas consequências devastadoras.
É imprescindível a adoção de medidas urgentes de segurança viária e a melhoria da infraestrutura cicloviária para evitar sinistros fatais. Nesse contexto, destacamos o projeto Vias Seguras da UCB, que atua de forma proativa junto ao Executivo e Legislativo federal para promover a segurança viária. Também ressaltamos a campanha Ruas Vivas, que está em seu quarto ano e visa aprofundar o debate em torno de ações que resultem em maior segurança no trânsito para pedestres e ciclistas. Como parte dessa iniciativa, a UCB propôs o PL 2789/2023, que altera o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) para reformular a forma como as velocidades são estabelecidas nas áreas urbanas, possibilitando a fiscalização por velocidade média. Essas ações são essenciais para garantir a segurança viária e proteger os grupos mais vulneráveis no trânsito em todo o Brasil.
Durante nossa campanha Mobilidade Sustentável nas Eleições, que inclui medidas de segurança viária, buscamos a adesão de candidaturas à prefeitura e à vereança. Entretanto, poucas candidaturas se comprometeram com a causa, o que reflete um desinteresse preocupante. Essa apatia é sentida diariamente por ciclistas e pedestres que disputam espaço em vias perigosas. O recente atropelamento na Rua São Miguel, no bairro de Afogados, Zona Oeste do Recife, que resultou na sexta morte em 30 dias, é uma prova clara dessa realidade.
A cada novo sinistro, o poder público se limita a emitir notas de lamentação. A falta de ações concretas para transformar as ruas em espaços seguros para ciclistas nos leva a exigir que as autoridades competentes ajam imediatamente em defesa da vida.
Em Recife, a Autarquia de Controle de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), responsável pelo monitoramento, controle e fiscalização do trânsito e do transporte na capital, declarou à imprensa ter uma “política totalmente voltada para a segurança viária da população”. No entanto, esses seis sinistros fatais contradizem essa afirmação. A Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo), nossa associada, luta incansavelmente por uma infraestrutura segura. Embora a CTTU afirme que a colaboração da população é essencial — e nisso concordamos — questionamos o que está sendo feito para garantir o respeito às leis de trânsito e, especialmente, exigimos ações concretas da Prefeitura de Recife para transformar essa retórica em resultados tangíveis. É fundamental que os condutores de veículos motorizados sejam conscientizados de sua responsabilidade pela segurança de ciclistas e pedestres. “O carro é seu, a rua é de todas as pessoas.”
Neste contexto, a ENABICI – Estratégia Nacional da Bicicleta, elaborada pela UCB em função da criação do Programa Bicicleta Brasil e em parceria com diversas organizações, criou uma agenda de ações até 2030 para transformar a realidade da mobilidade por bicicleta no Brasil, garantindo mais segurança e conforto para todos os ciclistas.
É preciso mais do que lamentações — é preciso ação. Precisamos de medidas proativas em defesa da vida que circula e se movimenta ativamente nas nossas cidades.