Canal Aberto Nº 09
A migalha do bilhão: investir nas ongs de bicicleta para repartir o bolo
Por Murilo Casagrande – Fundador e Diretor de Desenvolvimento Institucional do Instituto Aromeiazero
Em um webinar promovido pela UCB e o OSC Legal Instituto em setembro de 2022, escutei, com muita alegria, alguém que trabalha com o terceiro setor dizer que o cicloativismo é bem organizado e gera impactos relevantes. Isso foi dito pelo Lucas Seara, coordenador do Instituto. Sempre me pergunto o que faríamos, com quanta gente boa poderíamos trabalhar e quais projetos fortaleceriam nossa democracia?
Nós, enquanto Organização da Sociedade Civil (também chamadas de ONGs), realizamos um papel fundamental e de importância para a população. É o terceiro setor, que trabalha para suprir a ausência do poder público em várias áreas e setores, desenvolvendo ações que dialoguem com políticas públicas, mas sem se apropriar do que é público. Além disso, a sociedade civil também pode ser vista como verdadeiro laboratório de inovação com enorme potencial de contribuição para a resolução, ou parte dela, dos problemas do país.
Segundo estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), encomendado pelo Movimento por uma Cultura de Doação e coordenado pela Sitawi Finanças do Bem “as mais de 815 mil organizações do terceiro setor que existem no Brasil respondem por cerca de seis milhões de postos de trabalho, além de apresentar contribuição de 4,27% no PIB”. Apesar da grandeza deste setor, as OSCs sofrem inúmeras dificuldades para manter seu trabalho. Trata-se de um processo que exige planejamento, estratégias, profissionais capacitados e uma boa gestão. Parecido com empresas de grande porte, mas com um orçamento infinitamente menor. A captação de recursos, por exemplo, é uma estratégia essencial para garantir a existência e manutenção das atividades desenvolvidas.
E como anda a cultura de doação por aqui? Quem também tem olhado para o assunto é o IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social. A segunda edição da pesquisa de 2020 (a primeira foi em 2015) mapeou que 66% dos entrevistados fizeram algum tipo de doação e 61% dos brasileiros concordam totalmente que as ONGs dependem da colaboração de pessoas e empresas para obter recursos. No último World Giving Index, de 2022, da organização britânica Charities Aid Foundation, representada no Brasil pelo IDIS, batemos um recorde e o país ficou entre os 20 que mais doam. Ou seja, há muita gente que doa e que entende a importância. Mas, ainda parece pouco pelo o que vivemos e ouvimos de nossas parceiras.
E justamente os que têm mais, precisam doar mais.
Com base em entrevistas com 21 filantropos e 21 captadores de recursos, o estudo “O Futuro da Filantropia no Brasil: Contribuir para a Justiça Social e Ambiental”, lançado recentemente pelo Instituto Beja traz nove conclusões e algumas estimativas bem embasadas em dados. Uma delas é de que “o nível de filantropia no Brasil é considerado relativamente baixo, com um total estimado de US$ 4 bilhões em doações anuais. Isto é significativamente menor do que a previsão de doação do Brasil com base em sua participação no PIB global (previsão de doação de US$ 20 bilhões) ou com base no número de bilionários brasileiros (previsão de doação de US$ 28 bilhões). Considerando que o Brasil tem 62 bilionários, segundo o estudo divulgado pela plataforma de cupons Cupom Valido, com dados da Forbes, há potencial de doar bem mais.
Temos dados que mostram um avanço na cultura de doação ao mesmo tempo que temos literalmente bilhões a captar. Claro que esses bilhões não viriam todos para a “causa da bicicleta”, englobando ativistas, coletivos e OSCs que trabalham com bike e tudo o que ela traz de bom para nossa sociedade. Jill Warren, CEO da European Cyclist Federation, disse recentemente em um painel sobre iniciativas Globais para fomento à bicicleta que: “Na defesa do ciclismo, muitas vezes lutamos por migalhas, quando deveríamos estar pedindo uma fatia do bolo!” É importante fazer o bolo da bicicleta crescer e garantir uma divisão mais justa.
Seja para inspirar ou para colaborar, seguem campanhas e formas de apoiar o Aro e outras organizações:
A UCB (União de Ciclistas do Brasil) tem uma campanha para apoio recorrente que está no ar e é muito importante que mais pessoas (e organizações) contribuam para a construção da ciclomobilidade no Brasil. https://benfeitoria.com/projeto/ucb
Como alguns dados nas pesquisas são comparados aos EUA, a Equicity é um boa referência de campanha e de trabalho que usa a bike para lutar por mais equidade racial. https://equiticity.networkforgood.com/projects/176077-the-2023-equiticity-power-equity-campaign
Saindo da bicicleta, uma referência há anos em captação é o GRAACC. São mais de 20 frentes de captação, de Bazar e Voluntariado, até o McDia Feliz, doações em testamentos e títulos de capitalização. https://graacc.org.br/doar/
E a campanha de doação do Aro está no ar, dá para ajudar com menos de um real por dia. Esse valor é muito importante para as despesas institucionais – as contas que os projetos não pagam, um desafio para todo o setor. https://www.aromeiazero.org.br/doe
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¹ – https://www.youtube.com/watch?v=E9oCJhHvs0s
² – https://sitawi.net/a-importancia-do-terceiro-setor-para-o-pib-no-brasil/
³ – https://www.idis.org.br/brasil-atinge-recorde-e-esta-entre-os-20-paises-mais-solidarios-do-mundo/
⁴- https://captadores.org.br/noticias/estudo-faz-retrato-da-filantropia-no-br