UCB falou da importância da mobilidade ativa no EMDS
Cada dia mais, as pessoas discutem a importância do caminhar e andar de bicicleta como meios eficientes de promover a mobilidade urbana sustentável nos municípios brasileiros, seja em áreas urbanas e/ou rurais.
No sentido de fomentar ainda mais o diálogo e mostrar ações que já estão em curso no país, a mesa “Como transformar as cidades através do transporte a pé e de bicicletas”, que aconteceu na manhã da quinta-feira, 27 de abril, na Sala Temática “Desafios da Mobilidade urbana”, durante o IV EMDS, cumpriu seu papel.
A mesa contou com a participação da coordenadora de Mobilidade Urbana e Acessibilidade do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, Paula Santos, o coordenador de portfólio do Instituto Clima e Sociedade (ICS), Walter de Simoni, a diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), Clarisse Linke, e, pela UCB – União de Ciclistas do Brasil, João Paulo Amaral, ou JP.
Abaixo, JP nos dá a impressão dele sobre a mesa e o evento de uma forma geral.
Foi interessante ver a força da Frente Nacional de Prefeitos, pelo fato de terem mobilizados 8.000 pessoas para participarem do evento e, além, mais 1.000 representantes de prefeituras, perpassando e rompendo a lógica partidária, gerando muita troca de experiências entre secretárias (os), prefeitas (os) e outras pessoas que exercem funções diversas nos municípios.
Em si, o EMDS foi bem organizado e conseguiu juntar uma programação boa o suficiente para aproveitar um pouco de tudo, com muitas reuniões e eventos paralelos de fóruns e organizações internacionais que puderam agregar ao debate. Exemplo disso foi a reunião do CB27 (rede secretários de meio ambiente das capitais brasileiras) e o Fórum Brasileiro de Dirigentes e Secretarias de Mobilidade Urbana.
Uma curiosidade foi que a UBER investiu no evento, inclusive criando um UBER Point, além da fachada de entrada do stand da empresa com a frase “O Futuro da Mobilidade”, e “Ubergirls” pedalando em bicicletas no evento. Foi interessante o debate criado entre Organizações da Sociedade Civil e Prefeituras no sentido de desconstruir o aplicativo UBER como solução para mobilidade urbana.
Principais temas em Mobilidade Urbana:
Foram realizados dias dias de cursos pelo WRI e todos os materiais estão disponíveis AQUI. Nestes cursos, os principais temas e discussões foram:
1) Planos de Mobilidade Urbana:
– Muitos planos estão surgindo no Brasil, mas não significam que tenham bons projetos ou mesmo implementação.
– Ex: Dos 378 projetos de mobilidade pelo PAC, 69% NÃO foram implementados.
– Não adianta fazer planos sem visão de integração entre regiões metropolitanas, e isso está faltando na Política Naiconal de MobUrb.
– Financiamento: foi o grande debate. Municípios estão com fragilidade fiscal: 77% dos municípios geram menos de 20% de receita própria e não conseguem bancar seus PlanMobs por conta própria.
– É importante criar formas de inovar na elaboração dos PlanMobs: caso do Mapa colaborativo do RJ pelo Lab.Rio para propostas ao PlanMob.
2) Ruas Completas:
– Um grande lançamento (e com estande físico mostrando isso) no EMDS foi do projeto Ruas Completas do WRI, que é o conceito de uma rua que prioriza meios de transporte sustentáveis e fachada ativa dos comércios que convidem as pessoas para caminharem.
3) Segurança viária:
– Tema claramente forte em todas as discussões e teve um curso apenas sobre isso.
– No Brasil morrem 43.000 pessoas no trânsito, sendo 52% usuários vulneráveis (pedestres e ciclistas).
– Solução proposta = abordagem dos 4 E’s (em inglês): Engineering (Engenharia), Enforcement (Fiscalização), Emergency Response (Atendimento de Emergência) e Educação.
– O ROI (Retorno sobre Investimento) em Engenharia para Segurança Viária em um exemplo dado foi de mais de 700% apenas no 1o ano.
– Mudança modal: Mudar do carro para transporte público reduz em 90% o risco de acidentes.
– Promover a Bicicleta: apresentou-se casos mundiais de que mais bicicletas = menos acidentes.
O Fórum Brasileiro de Dirigentes e Secretarias de Mobilidade Urbana:
O Fórum é uma instância de secretário/as de mobilidade urbana do Brasil e que não se reuniam há um bom tempo. Estiveram presentes 33 secretária/os e a coordenação executiva foi feita pela ANTP. O tema mais discutido foi Transporte Público.
No Fórum, o Secretário de Mobilidade do Ministério das Cidades apresentou um novo recurso de R$3 bilhões para cidades pequenas (até R$ 5milhões por projeto) a ser lançado na Marcha dos Prefeitos, em 15 de maio.
A mesa “Como transformar as cidades através do transporte a pé e de bicicletas”
O debate trouxe algumas discussões bases:
– O Secretário de DF apresentou um entendimento da bicicleta muito voltado como alimentadora do transporte público, o que pode ser de fato, mas poderia se pensar em ampliar esse raio de alcance de várias formas.
– Como demanda, ficou entendido que é preciso que ainda existam manuais de padronização de infraestrutura cicloviária no Brasil.
– A bicicleta para todas e todos: foi bastante discutida a promoção da bicicleta conectando-se às questões de gênero e também de idade (em especial o público infantil) e como estes públicos precisam ser ouvidos no momento de planejamento e implementação das políticas.
– Grande dilema da mesa: remoção de estacionamento para fazer ciclofaixa foi apresentada como solução prática, mas que há um grande embate com comerciantes e os próprios motoristas para implementá-las.
A UCB na mesa:
Nosso objetivo maior foi mostrar como investir na bicicleta. Para tal, apresentamos alguns dados que puderam provocar o imaginário das pessoas presentes para outras possibilidades de cidades possíveis. Exemplos que usamos:- Ponte Estaiada de São Paulo custou R$175 milhões e os 400km de SP custaram R$80 milhões.
– Investimento em bicicleta é na mobilidade, mas o retorno é transversal;
– Custos de saúde na Inglaterra: 1 dia a menos de absentismo no trabalho; ROI de £128 million por ano;
– integração com TP – projeto BITIBI na Europa mapeou aumento de 20-40% novos passageiros e 10-20% menos carros (pendulares) quando há bicicletários e estações de bike sharing.
– Falamos também do documento “A Bicicleta e os ODS” da UCB, em especial integrado à erradicação da pobreza e acesso a educação, temas do debate.
– Terminamos falando que a bicicleta é vantajosa politicamente (ninguém fica famoso por fazer um viaduto, mas por fazer uma mega infra para bicicleta sim, especialmente numa realidade fora do Brasil. Ex: Boris em Londres, Bloomberg em NY, Anne Hidalgo em Paris, Peñalosa em Bogotá).
Municípios/Regiões em prol da bicicleta:
Nas conversas e debates reparei alguns municípios/regiões bem interessadas no tema da bicicleta. A saber:
– Brasília está começando agora um Plano de Transporte Ativo.
– Fortaleza apresentou resultados muito interessantes, em especial com o sistema de bike sharing – Biciceltar, em que fizeram um prêmio para o usuário mais assíduo e para o usuário de número 1 milhão!
– Hortolândia/SP: secretário quer fazer um fórum de bicicleta e investir principalmente na conexão das ciclovias existentes.
– São Paulo: O secretário de mobilidade da cidade esteve lá e foi muito indagado pelos planos de remoção das ciclovias. Foi clara a visão dos presentes de que isso é visto como retrocesso.
Outros tantas ações, programas e políticas foram apresentadas ao longo do evento e nas atividades em paralelo. Certamente, esse encontro do EMDS marcou uma virada de página com relações aos anteriores, no que tange à mobilidade ativa.