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23 de fevereiro de 2017

Cicloativismo: instrumento de inserção da bicicleta como política pública das futuras gestões municipais

  • Artigo para a coluna “Unindo Ciclos” da UCB na Revista Bicicleta. Ver demais artigos aqui.
  • Edição: Nº 69 – Dez/2016
  • Autores: André Geraldo Soares – Diretor Presidente da UCB e Coordenador de Articulação da campanha Bicicleta nas Eleições da UCB. Revisão: Kelly Hekally – Vice-Presidente da Ciclovida (Fortaleza) e Coordenadora de Comunicação da campanha Bicicleta nas Eleições da UCB

O cicloativismo brasileiro vem desde suas primeiras manifestações na década de 1990 em movimento contínuo de amadurecimento e fortalecimento. Hoje, é possível reconhecer que os tímidos, mas evidentes, avanços na inclusão da bicicleta no sistema de mobilidade urbana não teriam ocorrido sem a ação direta e indireta de ciclistas e de suas organizações, em quantidade e qualidade crescente, nas cidades brasileiras.

Este amadurecimento pode ser analisado através de diversos indicadores: quantidade de membros atuantes, qualidade técnica da abordagem, ampliação da rede de relacionamentos sociais etc. Gostaríamos, entretanto, de destacar dois dos principais e que os articulam.

O primeiro é a variedade de espaços e ocasiões em que os cicloativistas se envolvem para alcançar o intento de, com a inserção da bicicleta, democratizar o trânsito dos lugares onde vivemos. O segundo, o desenvolvimento de atividades continuadas e articuladas para dar conta da complexidade dos problemas enfrentados e da utilização de todos instrumentos de intervenção social.

Ambos indicadores podem ser aplicados às experiências da Campanha Bicicleta nas Eleições, que, apesar de já haver terminado o pleito no qual se focava, ainda está em desenvolvimento. Eles, uma vez colocados em práticas, vão mostrar bom aproveitamento das participantes e a contribuição disto para o conjunto nacional.

A Campanha parte do pressuposto de que eleições municipais são uma arena importante de intervenção política – utilizada por diversos ramos de atuação da economia privada e da sociedade civil. Assim, não encontramos justificativas para que as organizações de ciclistas, que lutam durante todo o ano, entrem em recesso quando todas as discussões sobre o futuro das cidades são canalizadas para a disputa das urnas.

A pressão para a cicloinclusão deixou de ser preponderantemente através da ocupação das ruas pelas bicicletadas e, cada vez mais, vem sendo feita também na ocupação dos âmbitos de discussão e deliberação política, a exemplo do Plano de Mobilidade , de petições e requisições públicas, audiências do poder legislativo, instrução do poder judiciário e…as eleições.

Observando este conjunto de arenas, compreende-se que todas fazem parte do mesmo sistema político e são co-dependentes. É importante colocar as propostas do ciclismo para consideração e compromisso dos candidatos, a fim de que não se cometa a irresponsabilidade de deixá-los tão somente nas mãos dos financiadores de suas campanhas e dos interesses de poder que os colocaram na disputa. Mas existe uma grande disparidade entre o que um candidato promete para ganhar votos e o que ele realmente deseja ou consegue executar.

Por isso, as propostas que os ciclistas elaboraram, num positivo esforço de avaliação da realidade e sintetização de demandas, deixando-as mais claras também para si próprios, não devem e não permanecerão paradas no tempo. Tendo os candidatos comprometido-se ou não com as propostas, as mesmas, para saírem do papel, precisarão ser colocadas como uma plataforma de atuação sobre o poder público que se constitui a partir do próximo primeiro de janeiro.

As 30 organizações ciclísticas que atuaram nas eleições têm a oportunidade de observar e vivenciar o ciclo de formação e de aplicação do poder dentro de um município. Neste momento, os grupos cicloativistas locais discutem formas de interferir nos processos de transição entre governos e de incidir sobre as próximas administrações.

Esta continuidade é ainda mais necessária tendo em vista o espectro ideológico desenhado pelas urnas. Na média, as prefeituras e câmaras municipais tornaram-se mais conservadoras em relação à cultura urbana estabelecida e tendem a ser mais resistentes a abrir espaço para a bicicleta e para outros excluídos.

Em tempos em que os movimentos sociais, de forma geral, estão em processo de reflexão, buscando reorientar-se no contexto de crise social e ética, o cicloativismo, recém constituído enquanto movimento social, tem como desafio adicional contribuir para a dignidade da política.

Pelo que se pode observar a partir da UCB, enquanto rede que congrega tal conjunto, os advogados da bicicleta não só têm somado conquistas que beneficiam toda a sociedade como demonstrado usar bem seu objeto como ferramenta de leitura social e de desenho do futuro.

 

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