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06 de julho de 2021

Canal Aberto N° 03


Como a bicicleta ajuda na nossa saúde mental
por John Fontenele Araujo

 
 
Embora a elucidação da causa biológica para os distúrbios mentais permaneça um desafio, outros fatores que contribuem com o desenvolvimento dos distúrbios mentais, como os fatores sociais e ambientais, são mais fáceis de serem investigados e os resultados destas pesquisas tem produzido estratégias de aplicação imediata.
 
Um desses fatores é a vida urbana. Por isso, um conjunto de pesquisadores na área de psiquiatria e neurociência tem investigado as possíveis relações entre vida urbana e distúrbios mentais.
É reconhecido que há dificuldades metodológicas nestes estudos, especialmente na coleta e análise dos dados, o que explica algumas inconsistências nas conclusões das diversas pesquisas. Muitas vezes a divulgação destes resultados contraditórios confundem a opinião pública e dificulta a implantação de políticas para reduzir o impacto da vida urbana no desenvolvimento dos distúrbios mentais.
 
No entanto, com base nos dados de pesquisas dos últimos 20 anos, há um conjunto de temas recorrentes identificados. Os mais óbvios, claro e persistentes deles são o ‘espaço verde’ e a ‘exposição à natureza’.
 
Podemos então concluir que as cidades em que apresentam mais ´espaços verdes´ e oferecem condições para que seus habitantes tenham uma maior ‘exposição à natureza’, a população destas cidades apresentam uma melhor saúde mental.
 
Que os ambientes naturais tenham efeitos positivos sobre a nossa saúde mental não é nada surpreendente. Várias tem sido as abordagens em que os cientistas utilizam para investigar como este processo ocorre, como expor as pessoas à espaços verdes e verificar se isto reduz o estresso etc. Um estudo mostrou que 5 minutos de visualização de espaços verdes urbanos podem ajudar na redução do estresse, como mostrado por uma redução e regularização dos batimentos cardíacos. No Japão esta prática já é comum e eles chamam de “banho na floresta [‘Shinrin-yoku’]. Uma estratégia para reduzir o estresse e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Os estudos demonstraram efeitos benéficos da visualização passiva e exploração ativa de paisagens florestais através da redução de vários indicadores de estresse, como o nível de cortisol no sangue, pulsação cardíaca, redução na pressão arterial. Também, a exposição a um ambiente rural, e que muitos de nós somos originários e como o ambiente rural está em nossa memória inconsciente coletiva, reduz também a secreção do hormônio do estresse.
 
Todavia, sabemos que usar destas estratégias não é algo fácil de ser implantado. Afinal, permitir que as pessoas usem uma hora do seu trabalho para visualizar ou passear em espaços verdes tem implicações econômicas e de organização no ambiente de trabalho ou escolar. Garantir também condições para que todos tenham condições de visitar ambientes rurais, mesmo que nos finais de semana, também não é simples de ser implementado.
 
Aqui entra efeito BICICLETA. Afinal, quem usa a bicicleta como meio de mobilidade para ir à escola ou ao trabalho, tem condições de visualizar as áreas verdes da cidade e interagir com a natureza. Caberia aos gestores públicos construir os ambientes verdes, mais parque nas cidades e construir as rotas cicláveis passando por dentro dos parques naturais. Como mais pessoas usando a bicicleta para ir ao trabalho, teremos mais pessoas tendo contato com espaços verdes durante o deslocamento. Neste momento nós teremos maior interação sensorial com os espaços verdes e pedalando por dentro dos parques estaremos fazendo uma exploração ativa da natureza. O resultado será a redução do estresse e teremos uma melhor saúde mental. Além disso, o deslocamento por bicicleta nos tira de dentro da prisão metálica que são os automóveis e por isso estimula a nossa interação com outras pessoas que estão na rua.
 
Para nós que usamos a bicicleta como meio de deslocamento, temos o costume de pedalar nos finais de semana como lazer e visitamos locais fora do centro urbano e o ambiente rural. Algumas vezes sozinhos e outras em grupo. Então, para os efeitos negativos do ambiente urbano na nossa saúde mental uma estratégia de reduzir este malefício que as cidades nos impõem é criar um ambiente de estímulo a mobilidade por bicicleta.
 
Reconhecemos que esta relação entre a vida urbana e os distúrbios mentais é complexa e não pode se restringir somente a criação de estratégias de estímulos a mobilidade ativa, embora consideremos que isto seja essencial. Afinal, a vida urbana em cidades tem trazido benefícios para a saúde humana, afinal nas cidades há a oportunidade de educação, cultura, trabalho, comunicação social, e principalmente o acesso aos serviços de saúde. Porém, é nas cidades em que há maior acesso às drogas, ao crime, a violência, a pobreza, a falta de moradia, a alienação e a solidão. Todavia, podemos afirmar “a bicicleta é uma solução simples para os problemas mais complicados do mundo “.