Bicicletas Compartilhadas Públicas no Brasil
Por Victor Andrade, Pedro Bastos, Marcela Kanitz e Letícia Quitanilha
A produção científica, a promoção da transparência e monitoramento de dados sobre os sistemas de bicicletas compartilhadas públicas no Brasil é primordial para subsidiar o desenvolvimento de políticas de mobilidade e orientar tomadas de decisão baseadas em dados.
No Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB), da UFRJ, temos a missão de produzir dados e promovemos a sua divulgação e compartilhamento através da plataforma MicromobilidadeBrasil.org, onde mapeamos e monitoramos os sistemas públicos de bicicletas existentes nas cidades brasileiras e quantificamos as emissões de CO² evitadas.
Após o auge na oferta de serviços em 2019, 2020 iniciou-se com uma expressiva diminuição desse mercado no Brasil devido aos impactos da pandemia do Covid-19 e, também, às necessidades de readequação de viabilidade do negócio, incluindo novas estratégias de operação e priorização de algumas cidades. Dados de 2020 indicam a presença de sistemas de bicicletas públicas distribuídos em 20 cidades brasileiras.
Aproximadamente, 98% dos veículos são bicicletas fixas e 2% do tipo dockless (com retirada e devolução em locais livres dentro de áreas permitidas). Pelo menos 58% dos sistemas estão localizados no Sudeste, seguido do Nordeste (19%), Sul (15%) e Centro-Oeste (8%). Ao todo, esses veículos percorrem 224.939 quilômetros/dia, equivalentes a cerca de 2 mil voltas ao redor do mundo por ano e pouco mais de 1.900 toneladas de CO2 evitadas também por ano!
Atualmente, as bicicletas públicas compartilhadas vêm sendo conectadas cada vez mais a novas tecnologias: no ano de 2020, chegaram as bicicletas elétricas ao sistema Bike Rio – o primeiro a oferecer essa tecnologia no Brasil.
Em complemento à plataforma, realizamos em 2020 um estudo aprofundado sobre o perfil de uso dos sistemas Bike Itaú. O resultado apresenta a distribuição espacial, dinâmica de uso, segmentação de público e benefícios desse sistema (disponível para download em labmob.org/publicacoes).
Entre os principais resultados encontrados, evidenciamos que as estações com mais uso no Rio e em São Paulo estão associadas ao transporte de alta capacidade, indicando a relação de intermodalidade. Enquanto em Porto Alegre e Salvador as bicicletas compartilhadas apresentam relação forte de uso com áreas de lazer (parques e orla). Em São Paulo, o uso apresenta horários de pico bem definidos, indicando que bicicletas são acionadas majoritariamente para deslocamentos casa-trabalho-casa.
Quanto às questões demográficas, a média de tempo por viagem é maior entre mulheres, embora a intensidade de uso seja maior entre os homens em todos os sistemas. Para o caso específico de Porto Alegre, o número de mulheres usuárias do sistema é mais elevado que o de homens. Em Pernambuco, Rio e Salvador, a média mensal de viagens por usuários acima de 60 anos supera a média mensal de usuários jovens.
A expansão dos sistemas de bicicletas públicas compartilhadas nos aproxima de um futuro com cidades mais sustentáveis. A produção de dados mediante a sinergia frutífera entre academia, setor público e privado e sociedade civil é chave para que esses sistemas sejam efetivamente inerentes ao transporte público urbano e promovam uma mobilidade mais equânime, democrática e sustentável.