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23 de fevereiro de 2017

A pé e de bicicleta – Cidade ciclável é também mais caminhável

  • Artigo para a coluna “Unindo Ciclos” da UCB na Revista Bicicleta. Ver demais artigos aqui.
  • Edição: Nº 68 – Nov/2016
  • Autores: Por Andrew Oliveira (Cientista Social pela Universidade Estadual de Campinas, Coordenador de projetos da Corrida Amiga), Anna Gabriela Hoverter Callejas (Arquiteta e urbanista pela Universidade de São Paulo, Mestre pela Columbia University, Presidente da Cidade Ativa), Rafaella Basile (Arquiteta e urbanista pela Universidade de São Paulo, Vice-Presidente da Cidade Ativa), Ramiro Levy (Arquiteto e urbanista pela Universidade de São Paulo, Secretário da Cidade Ativa) e Silvia Stuchi Cruz (Dra em PC&T pela Universidade Estadual de Campinas, Coordenadora Geral da Corrida Amiga).

 

 

Caminhar é a forma mais democrática, sustentável, saudável e econômica de se deslocar pela cidade. Ao abordar o tema do deslocamento a pé estamos também discutindo a forma das nossas cidades, da infraestrutura que garante o ir e vir dos pedestres e que conecta esta rede com infraestrutura de transporte público; estamos tratando do planejamento urbano, da organização das funções da cidade, de seus espaços públicos.

Quando tratamos do tema estamos também colocando o direito à cidade em pauta, logo, a mobilidade a pé também pode promover engajamento nas comunidades. A vivência da cidade, de alguma maneira, estimula a sociedade a participar das tomadas de decisão da sua cidade ou do seu bairro, promove articulação entre pessoas com objetivos comuns e, principalmente, impulsiona que se coloque o interesse coletivo acima do individual.

No Brasil, de acordo com dados da ANTP (2012), cerca de um terço das viagens cotidianas (33%) nas cidades são realizadas a pé e 4% de bicicleta. Ao somar o transporte ativo ao transporte coletivo, este número se torna superior a dois terços.

Impulsionados por este contexto, ao longo dos últimos anos, passam a surgir cada vez mais grupos organizados que atuam pelos espaços públicos e colocam em pauta a importância do pedestre nas políticas públicas e ações sobre mobilidade urbana vêm surgindo organizações, formalizadas ou não, que realizam campanhas, pesquisas e projetos que têm como foco a infraestrutura do deslocamento a pé e a retomada dos espaços públicos para o pedestre, buscando melhorar a experiência de andar nas ruas.

À luz de outros movimentos envolvidos com mobilidade urbana, como o movimento dos cicloativistas, eles vêm se fortalecendo e gerando resultados concretos (i.e, Paulista Aberta, Cidade A Pé), mas ainda enfrentam desafios significativos relacionados com apoio político, falta de recursos, movimento jovem e pouco articulado e que necessita de planejamento de curto, médio e longo prazo. Assim, a pesquisa Como Anda nasce da necessidade de compreender este movimento entendendo suas estratégias de atuação para posterior análise e categorização dos dados.

Sabendo quem são e o que fazem as organizações que atuam no tema, é possível identificar as oportunidades e desafios para que os grupos se fortaleçam e se consolidem no cenário da mobilidade urbana, gerando benefícios para a sociedade. Pessoas de bicicleta e pessoas que caminham: como o movimento cicloativista promove também a mobilidade a pé?

Primeiro, embora a legislação garanta a segurança para a mobilidade ativa — CTB art. 29 §2º: “(…)os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres”, a divisão das ruas é acentuadamente desigual. Na prática, 80% do espaço viário das cidades são dedicados aos veículos motorizados, enquanto os modos a pé e de bicicleta contam com pouca infraestrutura, mesmo sendo a maioria dos deslocamentos de acordo com as pesquisas origem-destino. Essa desproporção e injustiça acabam por vulnerabilizar essas pessoas no trânsito e desestimular a escolha por esses modos de transporte.

Neste sentido, o programa nacional vision zero, que começou na Suiça e se espalhou por diversas localidades, como Nova Iorque, por exemplo, tem o principal objetivo de reduzir a zero as mortes no trânsito, aponta também que cidades mais cicláveis reduzem consideravelmente a taxa de ocorrências de trânsito envolvendo pedestres. Em outras palavras, ciclovias, ciclofaixas e toda infraestrutura que garante a segurança daqueles que pedalam, tornam as ruas mais seguras também para os que caminham.

Outro aspecto importante a ser ressaltado é que, ao longo das últimas décadas, os movimentos pró-bicicleta no país influenciaram políticas públicas, ganharam espaço na mídia e concretizaram muitas ações que impactaram positivamente questões estruturais e também culturais nas cidades brasileiras. Os esforços e conquistas deste movimento são grande inspiração para o movimento pedativista, que começou a surgir em 2010.

Além disso, com o movimento pela mobilidade a pé ganhando cada vez mais espaço e notoriedade, sobretudo na cidade de São Paulo e outras cidades do mundo, como cidade do México, Buenos Aires, Quito, os grupos de cicloativismo vêm destacando e atuando dentro desta pauta, lado a lado, em busca do objetivo maior: cidades para as pessoas!

Vários grupos inspiram o uso da bicicleta como meio de transporte, acreditando que a bicicleta é uma ferramenta de transformação social e que quanto mais gente pedalando e andando, melhores serão nossas cidades.

Outros trabalhos importantes, visam promover mobilidade, arte urbana, esportes, qualidade de vida e inovação social, enxergando também a bicicleta como ferramenta de mudança no modo de vida e de relações sociais, levando à população discussões sobre mobilidade e transformação de espaços públicos para crianças e jovens de áreas vulneráveis da cidade.

Iniciativas diversas promovem a mobilidade a pé a partir da cultura da bicicleta, uma vez que mobilidade urbana significa não só pensar os espaços para garantir o ir e vir das pessoas; significa repensar como elas se relacionam entre si e com a cidade.

As atividades realizadas pelas organizações mapeadas no Como Anda mostram claramente que os movimentos unidos, em seu potencial de articulação e pressão, farão com que as transformações nas cidades — planejadas e desenhadas para o transporte individual motorizado  –  de fato aconteçam, rumo a cidades que priorizem as pessoas.