Crise do coronavírus antecipa o uso de bicicletas para fazer entregas por comerciantes em São Paulo
Por Rogério Viduedo – jornalista
Para manter algum faturamento enquanto durarem as medidas de isolamento social impostas pelo combate ao Covid-19, alguns restaurantes e lanchonetes em São Paulo começaram a entregar pedidos em domicílio pela primeira vez.
Para isso, passaram a utilizar bicicletas próprias, emprestadas ou alugadas.
Marcio Ikeda, proprietário da lanchonete The Box, da Vila São Francisco, na zona oeste da cidade emprestou uma de um amigo. A lanchonete ficou fechada durante 30 dias durante os quais ele concedeu férias para os quatro funcionários.
Quando reabriu no final de abril, precisou adaptar a operação para evitar demissões. Com isso, dois atendentes passaram a usar a bicicleta para fazer entregas de curtas distâncias.. “Foi uma maneira de otimizar o recurso (o funcionário), de não deixá-lo ocioso e não ter que demitir”. Márcio diz que o modelo de negócio dele não previa a entrega, pois a lanchonete foi
montada de modo a aconchegar a freguesia em um ambiente ao ar livre e “deixa-la à vontade”.
Por isso resolveu fazer os atendentes entregarem os pedido com a bike, ao invés de deixar tudo por conta dos aplicativos de entrega. “É mais agradável do que receber um motoboy que não tem relacionamento com o cliente, é
uma entrega bem mais amigável”, diz. Ele espera com isso gerar empatia do estabelecimento com a vizinhança.
No Brooklin Paulista, zona sul, a lanchonete Bom Sabor também adotou o delivery de refeições para não ficar de portas fechadas. Maurício, o dono do pequeno restaurante, começou a fazer entregas com a própria bike e logo precisou de outra. Ao invés de comprar, alugou um modelo simples na bicicletaria que funciona em frente ao restaurante. “É mais barato do que ter uma e a manutenção é toda por conta dela”, informa.
Com a bicicleta alugada, Maurício contratou um rapaz para ajudar a dar conta do volume de entregas, que atinge até 25 marmitas por dia na hora do almoço.
O aluguel de bicicletas diretamente para pequenas e microempresas, todavia, não é comum no Brasil. Tanto é que essa modalidade não aparece entre os 10 produtos e serviços mais oferecidos por 161 bicicletarias e bike shops que responderam a uma pesquisa realizada pela Aliança Bike entre março e abril deste ano.
O estudo apontou os principais problemas que o varejo do setor tem enfrentado após a eclosão da crise sanitária.
Vitor Muramatsu, pesquisador acadêmico da USP na área de psicologia social e mobilidade urbana, observa que o uso da bicicleta na logística de São Paulo tem crescido nos últimos três anos a despeito do senso comum que frequentemente vê impedimentos nessa forma de logística por conta da topografia paulistana. Ele estima que os comerciantes que usam essa solução de forma temporária tendem a adotá-la definitivamente, o que deve estimular o crescimento do serviço de aluguel. “O que temos visto é que os comércios de bairro ou com atuação local experimentam o sistema de entregas por bicicletas na forma de aluguel e acabam integralizando essa função à operação, que historicamente é de altíssima eficiência”, reforça.
No começo de março, Vagner Pimenta, dono da Villa dos Pães, já tinha três bicicletas próprias para atender pedidos e passou a alugar mais duas para agilizar as entregas aos clientes que a padaria possui na Vila Olímpia, região da zona sul paulistana que concentra grande número de escritórios de tecnologia, mercado financeiro e publicidade.
Ele diz que a crise do Coronavírus fez o número de pedidos caírem bastante, mas ele não pretende devolver as bicicletas alugadas. O serviço possui excelente relação entre custo e benefício. Vai inclusive aposentar as bicicletas próprias. “A partir do momento em que elas não ficarem
mais adequadas para o uso vamos substituí-las por bicicletas alugadas”, confessa.
Quem está otimista com essa nova tendência é o proprietário da Central Bikes, Rogério Ferreira, a bicicletaria que fornece as bicicletas para Pimenta e Maurício. Ela completou recentemente o primeiro aniversário de funcionamento. A modalidade começou a ser ofertada no começo deste ano para diversificar o faturamento da loja. No momento , são 10 as bicicletas alugadas. “Acredito que é um serviço que vai ser bem mais procurado após a crise”, estima.
Outro público que Rogério quer como clientes são os muitos jovens que têm sido atraídos pelos aplicativos de celular para fazerem entregas. Como muitos não não possuem bike própria, têm usado o sistema de bicicletas compartilhamento da cidade. “Nosso serviço de aluguel é mais vantajoso para eles, pois não precisam retornar a bicicleta para uma estação do sistema a cada hora de uso”. Os preços são convidativos. O plano mensal custa R$ 112,00 e inclui a manutenção preventiva e seguro contra roubo. E podem ser levadas para casa.