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08 de novembro de 2015

O I Fórum Nordestino da Bicicleta – FNB – foi um sucesso!

Capturada_32 Nov. 21 18.08.45Reproduzimos o artigo escrito pelo associado da BH em Ciclo – Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte, e também da UCB, Carlos Edward, sobre o 1º Fórum Nordestino da Bicicleta.

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O 1º Fórum Nordestino da Bicicleta, que aconteceu em Recife do dia 29/10 a 01/11 de 2015, foi organizado pela, Ciclovida (Fortaleza), CicloUrbano (Aracaju), ACIRN (Natal), Ciclomobilidade (Maceió), Mobicidade (Salvador), além da anfitriã  Ameciclo (Recife)  e contou com o apoio da UCB e do Bike Anjo. De fora do Nordeste estavam também representadas a  BH em Ciclo (Belo Horizonte), e a Ciclocidade (São Paulo).

Vou relatar aqui algumas das palestras e mesas de discussão que me chamaram mais a atenção. A programação completa do evento pode ser vista aqui.

Na sexta feira 30/09, aconteceu o painel O Papel da Bicicleta na Emancipação Feminina,  que foi mediado pela Kelly Hekallyda da Ciclovida e contou com a presença de Sheryda Lopes Borges, do Coletivo Ciclanas, Marcella Marconi, do Bike Anjo Salvador, e Renata Falzoni, do Bike é Legal .

Foto Ju Brainer
Foto de Ju Brainer
Todas elas falaram das suas experiências pessoas com a bicicleta e compartilharam dificuldades que são comuns a todas as mulheres que
 ocupam as ruas das cidade com suas bicicletas. Para além da dificuldade imposta a quem usa a bicicleta como um modo de transporte, as mulheres enfrentam muito mais barreiras em função do machismo e da misoginia, ambas ainda muito presentes na sociedade brasileira de forma geral.

Foi incrível ver mulheres tão seguras e empoderadas reunidas numa discussão sobre a importância que a bicicleta tem nesse processo de conquista de libertação. Uma articulação nordestina feminista em torno da bicicleta, a  meu ver nasceu ali.

Uma curiosidade relatada pela Sheryda, do Coletivo Ciclanas, foi que como muitas das meninas desse coletivo só se conhecem pela internet, elas usam um cacho de fitinhas preso à bicicleta para se identificar, o que já permitiu muito encontros pelas ruas de Fortaleza

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      Foto de Carlos Edward Campos

Falzoni tocou em um ponto importante. Segundo ela, a ignorância do mercado de bicicletas é grande em relação às mulheres. Ele não consegue enxergar nelas um potencial consumidor que justifique maiores investimentos nesse seguimento e portanto os produtos voltados para a mulher de maneira geral são de péssima qualidade.

No mesmo dia aconteceu a mesa de discussão,  “Estimulando a Bicicleta nas Capitais”, composta pela Suzana Nogueira, da CET- Companhia de Engenharia de Trafego de SP, e Gustavo Pinheiro do PAITT-FOR – Plano de Ações Imediatas em Transporte e Trânsito de Fortaleza.

Ela , falou sobre a política de mobilidade de São Paulo nessa atual gestão e entre vários dados e informações importantes salientou que um programa cicloviário está longe de ser “pintar uma faixa vermelha”. Ele deve ser composto de uma série de ações que em conjunto vão prover condições para que as pessoas se sintam seguras e confortáveis em se deslocar pela cidade de bicicleta. Essa mudança de paradigma traz benefícios para toda a comunidade, mesmo pra quem não usa a bicicleta como modo de transporte.

Algumas das medidas aplicadas em São Paulo foram:

Área 40 – regiões onde a velocidade máxima permitida é de 40km/h;

Programa de redução e regularização de velocidade máxima permitida;

Faixa Verde – exclusiva para pedestres que funciona como uma extensão da calçada;

Frente Segura – boxes para bicicletas e motos;

Faixas Diagonais – nos cruzamentos, atendendo a necessidade do pedestre;

Faixas Exclusivas de ônibus –  malha atual é 480,3 km;

Planejamento e implementação de 400 km de ciclovias.
Suzana também fez questão de frisar que tão relevante quanto essa vontade política de fazer a coisa acontecer é a pressão da sociedade civil. Fundamental para cobrar essas ações e legitimar o gestor público. Então bora seguir trabalhando.

No sábado 31/10, aconteceu uma excelente discussão entre todas as associações e coletivos nordestinos presentes cujo nome foi “ Associações: o que queremos”.

Algumas associações, já com muita experiência na promoção e incentivo do uso da bicicleta, compartilharam de maneira horizontal esse conhecimento, o que vai sem dúvida fortalecer a todos os grupos da região. Foi mesmo um momento de muito aprendizado para todos.

No último dia 01/11, aconteceu a  Plenária para eleição da nova sede do Fórum Nordestino.

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Foto FNEBICI

A única cidade candidata a realizar o Fórum em 2016, eleita por aclamação, foi Fortaleza, cidade representada pela Ciclovida. Era vontade de muitos na plenária que o Fórum acontecesse de 2 em 2 anos para se ter o tempo necessário de gerar conteúdo e demandas em quantidade suficiente para se ter uma discussão produtiva. Decidiu-se que o Fórum acontecerá no ano que vem para fortalecer a continuidade do evento e na próxima plenária será retomada a conversa sobre a periodicidade do evento. A ideia é se ter o Fórum Nordestino em um ano e no outro as cidades que tem condições terão a liberdade de organizar o seu fórum local.

A minha impressão como um “forasteiro” nesse Fórum é de que foi dado um passo fundamental no sentido de uma maior integração e articulação do cicloativismo no Nordeste. O compartilhamento de informações e experiências gerará o empoderamento das pessoas e das associações locais, o que prevejo, será facilmente sentido nos próximos meses e anos.

Foi um grande privilégio assistir a história sendo escrita ao vivo e ter a certeza que nasceu ali um novo eixo alimentador e fomentador de ideias e iniciativas que só tem a fortalecer a todos nós que usamos a bicicleta como uma ferramenta de transformação e luta, não só pelo nosso espaço nas ruas das cidades, mas pela retomada das cidades pelas pessoas. O Nordeste mostrou que não só pode como deve pautar a discussão em todo o Brasil .

Carlos Edward Campos

Representante da BH em Ciclo no 1º Fórum Nordestino da Bicicleta.

De Bike na Cidade FNEBICI 2015 Recife Bicicleta Sheryda Lopes (9)

Foto: FNEBICI 2015

Já falei muitas vezes sobre a minha história com a bicicleta e sobre o quanto precisei de tempo para amadurecer e quebrar barreiras até que, efetivamente, começasse a pedalar. E desde que Shamira entrou na minha vida, as coisas vem mudando muito, tanto na minha relação com a cidade quanto naquela que tenho comigo mesma. Em 2015 estou zerando a vida: conheci mulheres da minha cidade que pedalam e se apóiam. Conheci Aline Cavalcante, cujos escritos e ações me ajudaram no tempo em que ainda sonhava com pedais. E na semana passada tive a honra de viajar para Recife para o primeiro Fórum Nordestino da Bicicleta, para falar sobre a experiência sensacional das Ciclanas aqui em Fortaleza e contar um pouquinho da minha própria história. Lá, conheci ainda a Renata Falzoni, uma jornalista e ciclista urbana que admiro bastante.

 

Foram quatro dias trocando ideias com cicloativistas nordestinos e alguns de outras regiões. E como foi bom estar ali, ouvindo aqueles sotaques diferentes do meu mas que traziam todos uma essência de Nordeste. Eram depoimentos e reflexões relacionadas ao uso da bicicleta, como já havia lido tantas vezes nos blogs do Sul e Sudeste que me informaram muito e continuam me informando. Mas, desta vez, eram relatos onde me identificava por causa do clima e da cultura. Senti que estava entre os meus. E minhas! Siiiim! Quantas mulheres nordestinas arretadas, guerreiras, descendentes de tantas outras nordestinas que fizeram sua luta nesse nosso chão, que seja rachado pela seca, molhado pelo mar ou pela lama do mangue, ou ainda, cujos pés subiram e desceram nossas serras enfrentando o machismo, tão intenso e cruel na nossa região. E quantas não pedalam, nesse Nordeste? Pois bem, fomos pauta e fizemos pauta nesse primeiro Fórum! E juntas, escreveremos história que orgulharão nossas netas. Parafraseando Ivânia de Alencar, bruxas de nós mesmas, sim!

E que mulheres loucas para mobilizar! Fala-se em Ciclanas em outros estados! Fala-se em construir debates, pedaladas, coletivos ciclofeministas regionais e nacionais! Nossas fitinhas inspiraram e viajaram para a Bahia, Paraíba, Sergipe… Enfeitam bicicletas cujas donas vão colocar a boca no trombone e o dedo nessa ferida aberta e fedida que é o machismo, presente até mesmo na fala de alguns homens que afirmam pedalar pelo direito à cidade. Ah, mas não esquecendo também dos companheiros dispostos a refletir sobre seus próprios privilégios e fortalecer o debate.

E falamos também da bike na periferia, refletindo sobre a invisibilidade de tantas bicicletas velhas e enferrujadas que carregam pessoas e sustento todos os dias. Esse Fórum representou passos dados rumo a um Nordeste que já anda de bicicleta desde que o mundo é mundo, e que agora pedala rumo a um diálogo cada vez mais transversal.

E no ano que vem, Fortaleza vai sediar a segunda edição do evento! Quero ver esta capital cheinha de cor! Quero ver quem faz o melhor baião de dois e que novidades vão enriquecer nossa cidade. E quero receber meus irmãos e irmãs nordestinas tão bem quanto fui recebida lá em Recife.

2016, chega logo que a gente já está se coçando para dar o grau aqui!

Um abraço e vamos pedalar!